Primeiros dias, primeiro capítulo: bem-vindo ao “casarão abandonado”!

Em junho de 2022 tive a oportunidade de viajar (novamente) para São Paulo. Desta vez estava indo a convite da Play9 para conhecer os novos escritórios do Google aqui no Brasil. Mas, aproveitei a ida para tirar do papel um projeto antigo do canal, que era a série “Arqueologia pelo Mundo Afora”. Fiz isso porque São Paulo já era minha primeira opção desde que a série foi idealizada.

Minha primeira visita foi à “Casa Amarela” na Rua da Consolação

No entanto, muitas coisas precisaram ser limitadas devido a pandemia da COVID-19 e também devido ao tempo curto que eu tinha para gravar na cidade (eu tinha exatos cinco dias para gravar seis capítulos). Então, na primeira tarde de gravações eu tinha um roteiro muito específico, que era visitar lugares históricos do centro de São Paulo. Mas, a Drika, que é analista de canais da Play9, sugeriu um outro roteiro “mais interessante” sobre um assunto que talvez eu iria me interessar mais, que era visitar um casarão ocupado na Rua da Consolação.

Observem estes arcos: eles são arcos bicolores geminados inspirados em um estilo chamado “mudéjar”

Tá, eu já tinha visitado uma ocupação de um casarão antes, que foi quando estudantes de arqueologia ocuparam uma sede do IPHAN aqui em Aracaju para protestar contra cortes na educação e o desmantelamento do Ministério da Cultura. Porém, o que vi em São Paulo era uma ocupação longa e com outro propósito, que era “trazer a luz” para as condições de um casarão antigo bem no coração da capital.

Estes vitrais são originais

Assim que cheguei com a Drika na esquina da Rua da Consolação com Rua Visconde Ouro Preto vi de cara aquele palacete enorme, “abandonado”, como alguns gostam de chamar, mas como o movimento de algumas pessoas vindo de lá de dentro. Era a Casa Amarela, como ficou popularmente conhecida. Ao entrar fui apresentada ao Alex Assunção, que faz parte de um dos coletivos que estão ocupando a casa. Ele explicou que eles são um projeto sociocultural que está vivendo no lugar a espera da assinatura da prefeitura concedendo e legalizando o espaço como centro-sócio cultural.

Como ele me falaria mais tarde, desde 2018 a Casa Amarela é um ponto de cultura do Estado e que eles estão trabalhando com as mais plurais linguagens da cidade de São Paulo, tanto por ser uma casa da década de 20 e por ter (como vocês podem conferir nas fotos) esta mistura de arte urbana com o contemporâneo.

Naquele dia era véspera da Parada LGBTQIA+, que ia ocorrer na manhã seguinte ali perto e o pessoal da casa estava preparando um evento especial para homenagear o mês da diversidade, além de arrecadar fundos para a manutenção e os trabalhos de restauro da casa. Como o Alex também explicou, era uma festa com intervenções artísticas, música e espaços instagramaveis.

A Casa Amarela é um casarão que foi construído em 1926 e que possui três andares e cerca de 40 cômodos, internos e externos. Ela possivelmente foi edificada pelo arquiteto Giuseppe Sachetti, responsável pela construção de outros imóveis no mesmo estilo por volta da década de 1920. Pertenceu a uma família que trabalhava com café e em 1950 passou a pertencer ao Instituto Nacional Previdência Social, antigo Instituto Nacional do Seguro Social. O espaço funcionou como creche de 1990 até 2000, inclusive ainda é possível ver resquícios dela através destes papéis de parede:

Resquício da antiga creche que funcionou na Casa Amarela

Em 2006, o casarão foi tombado pelo Conselho Municipal de Conservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo. Ele estava desocupado desde 2001, até que em 2014 foi ocupado por artistas que passaram a morar no local e frequentemente tem realizado por lá oficinas, cursos, palestras, feiras e exposições. A ideia deles é resinificar o local histórico, dando uma nova função para ele, até para evitar a sua destruição.

E agora o casarão é conhecido como “Casa Amarela Quilombo Afroguarany” por conta dos coletivos ali presentes e o nome foi escolhido justamente para abarcar tanto a cultura negra como indígena. Alias, desde 2015 ela é reconhecida como primeiro quilombo urbano, uma clara referência aos antigos quilombos que eram espaços de refúgio e resistência principalmente para escravizados negros. Em 2018, a Casa Amarela foi reconhecida pelo governo federal como ponto de cultura.

Eu não tive acesso ao terceiro andar, porque ele estava sendo usado como dormitório, mas tive acesso irrestrito aos demais. Está bem claro que o edifício possui alguns problemas estruturais e necessita de conservação. Por isso que o próprio coletivo de artistas foi atrás de um restaurador para saber o que é possível fazer para salvar o imóvel que ainda possui muitos detalhes de sua construção original como pinturas, afrescos e vitrais. Todos estes detalhes e muito mais vocês podem conferir no primeiro capítulo da série:

Espero que vocês curtam!

Quer saber mais?

Quer conhecer mais sobre a “Casa Amarela Quilombo Afroguarany” ou entrar em contato com eles? Veja os seguintes links:

https://www.instagram.com/casaamarelaquilombo/

https://www.facebook.com/casamarelaquilomboafroguarany/

https://casamarela.wordpress.com/